terça-feira, 16 de dezembro de 2014

POESIA DE CORDEL DE RERIUTABA - 3º LUGAR NO PRÊMIO PETECA 2014



Um dia vou ser Criança


Francisca Deigiane Lopes Azevedo


Ouço dizer que a infância
É uma nuvem colorida
Tão bela quanto o arco-íris
Bem tranquila e divertida
Em que a criança curte
E vive feliz da vida.

Concordo que seja assim
Pois a criança é a semente
Que vai germinar e crescer
Botar o mundo pra frente
Por isso ela deve ter
Um universo descente.

Mas nem toda criança tem
A vida que é pra ter
Muitas não têm nem um teto
E nem mesmo o que comer
Vivem no mundo, jogadas
Pelas ruas a padecer.

Eu sou uma das que sofrem
Pois mal tenho onde morar
Pra brincar não tenho tempo
Muito menos pra estudar
Minha vida é um corre-corre
É trabalhar... trabalhar.

Vejo crianças correndo
Sempre felizes, brincando
Outras com seus fardamentos
Em sua escola estudando
E eu aqui, de sol a sol,
O dia todo trabalhando.

Ainda fui pra escola
Mas eu tive que parar
Porque meu pai me chamou
Pra na roça trabalhar
Comecei com 7 anos
Quando aprendi a plantar.



Depois ganhei uma enxada
Um chapéu e uma cabaça
É de casa pro roçado
E assim a vida passa
Nunca conheci a feira
Nem dei uma volta na praça.

Eu bem sei que as crianças
Não vivem pra trabalhar
Se de manhã elas brincam
De tarde vão estudar
Eu queria uma vida assim
Pra que eu pudesse brincar.

Tenho um carrinho de lata
Uma bola e um pião
Mas onde eu arranjo tempo
Pra poder ter diversão?
De noite já tou cansado
Num guento brincar mais não.

Zezinho, um amigo meu,
Trouxe um livro pra eu ver
Tão bonito, colorido!
Disse: Esse é pra você!
Eu disse: Muito obrigado,
Eu não quero, não sei ler!

Ele disse: Sem problemas!
Espere, que volto já.
Trouxe um bocado de livros
E um banquinho pra sentar
Começou contar histórias
E eu do lado a escutar.

A Chapeuzinho Vermelho
Ainda era criancinha
Vivia de levar doces
Pra querida vovozinha
Andava feliz da vida
Pela floresta sozinha.

Pinóquio era de madeira
Mesmo assim foi estudar
Zezinho, Huguinho, Luizinho
Viviam sempre a brincar
E a Turminha da Mônica
Dá inveja de lembrar.


E Moogli, o menino-lobo,
Era pura diversão
É verdade que às vezes
Se metia em confusão
Mas Baguera e o velho urso
Lhe ensinavam a lição.

Zezinho lia com prazer
E eu ficava admirado
Viajando nas histórias
Ouvindo tudo, calado
Tinha um tal de Peter Pan
Eita menino danado!

Eu queria ser o Peter Pan
Pra voar, voar, voar
Ou ser o menino-lobo
Pra nas árvores escorregar
Ou ser mesmo uma criança
Pra estudar e brincar.

Zezinho também me disse
Que tenho direito à escola
De viver feliz da vida
De correr, de jogar bola...
E não viver no trabalho
Como pássaro na gaiola.

Me mostrou um tal de ECA
(Que muito me admirei)
E diz nele que o trabalho
Infantil é contra a Lei
Falou um monte de coisas
Se é verdade, eu não sei.

De repente escuto um grito
Francisco, onde é que tu tá?
Vamo logo, se avexa
É hora de trabaiá!
Olhei pro Zezinho e disse:
Um dia eu vou estudar!

Sempre ouço o pai dizer
Quem espera sempre alcança!
Que depois da tempestade
Com certeza vem a bonança
Por isso espero poder
Um dia também ser criança.


Escola Centro de Educação Rural - CERU
Diretor(a): Antonia de Maria Cardoso
Coordenador Pedagógico do PETECA
Cristiane Ribeiro
Professore(a)s: Cristiane Ribeiro 

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