sábado, 6 de dezembro de 2014

POESIA DE CORDEL DE SÃO GONÇALO DO AMARANTE. 1º LUGAR NO PRÊMIO PETECA 2014

A TEIMA DE ZÉ DO ECA E JOÃO TEIMOSO

Nacélio Simôa


Com meu verso rasteiro
Pra vocês venho contar
Uma historia bem triste
Que ainda tá a passar
Do trabalho infantil
Retrato de um Brasil
Que necessita mudar.

O causo que vou narrar
Ao meu querido leitor
É de uma discussão
Que numa cidade passou
Não tenho medo de contar
Por que eu estava lá
Quando tudo começou.

Numa cidade distante
Pras bandas do Canindé
Dois homens muitos distintos
Que logo se dava fé
Um era gente boa
Outro não valia broa
Misturada com café.
            
               I

Zé do ECA era um homem
Muito firme e verdadeiro
Um cabra trabalhador
Como tantos brasileiros
Que Defendia a criança
Que perdia a infância
Por ganância de terceiros.

Porém ele não gostava
De um tal João teimoso
Um cabra muito fogoso
Que não tinha educação
Num dia de sexta-feira
Encontrara-se na feira
Tal foi essa a discussão.
                 

JOÃO TEIMOSO
Zé do ECA seu safado
Queria lhe perguntar
A respeito de uma História
Que o senhor quer espalhar
Que criança tem direito
A brincar e ter respeito
E não pode trabalhar  .
           
             II

ZÉ DO ECA
Vá com calma João Teimoso
Pois falo a realidade
O que falei aqui repito
A todos dessa cidade
Digo não a exploração
E sim a educação
Pra nossa sociedade.


JOÃO TEIMOSO
Que mané educação
Isso tudo é bobagem
Se criança não trabalha
Vai viver de vadiagem
Escute o que eu te digo
Logo vai ser um perigo
Fazendo só sacanagem.


ZÉ DO ECA
João Teimoso sorrateiro
É bem pouco o teu saber
Pois existe alternativa
Pra isso não acontecer
É preciso educação
Do estado proteção
Com saúde e lazer.
       
          III

JOÃO TEIMOSO
Eu ando desconfiado
Que esse país não tem jeito
Pois pobre sei que não goza
De nenhum desses direitos
Criança é pra trabalhar
Pra família ajudar
Esse é o meu conceito. 


ZÉ DO ECA
Meu amigo seu conceito
Ele está muito atrasado
Vejo que há muito tempo
Você não é informado
Pois isso também tem jeito
Garantindo os direitos
De quem vem sendo explorado


JOÃO TEIMOSO
Se da lei você entende
De certo meu camarada
Também deve entender
Que a vida é pesada
Não aliso vagabundo
Coisa mais certa no mundo
É o cabo de uma enxada.
       
              IV

ZÉ DO ECA
Da lei sei que eu entendo
Só não entendo você
Se fosse um filho seu
Sofrendo tal padecer
Te falo caro sujeito
Exigias o direito
Disso não acontecer



JOÃO TEIMOSO
Você tá de brincadeira
Deve está é caducando
Pois o filho meu trabalha
Pra depois não tá roubando
Te falo com precisão
Isso sim é educação
Que a ele eu estou dando. 


ZÉ DO ECA
Teimoso isso é um crime
Tu pode ser processado
Depois de levado preso
É julgado e condenado
E pelo crime que fez
Vai direto pro xadrez
Ver o sol nascer quadrado
              
             V

JOÃO TEIMOSO
Seu ECA não acredito
Que a lei vá ser cumprida
Sei que aqui no Brasil
A lei não é garantida
Caso seja acusado
Pago um bom advogado
E a questão tá resolvida


ZÉ DO ECA
Com um bom advogado
Seu dinheiro irá gastar
Vai ficar envergonhado
Da lei não vai escapar
E pra encerrar meu verso
Vai direto pro inferno
Pelo mal que praticar.

Com esse ultimo verso
A conversa se findou
Teimoso ficou sem jeito
Pela vaia que levou
O povo estava zangado
Teria sido linchado
Mais o policia chegou.
   
        VI

O pobre João Teimoso
Envergonhado ficou
Pois tudo que tinha dito
O delegado escutou
E o mesmo descontente
Disse você vem com a gente
Se explicar ao promotor.


Do resto dessa história
Não posso dá reportagem
Por que naquela cidade
Estava só de passagem
Mais se por acaso ver
Algo assim acontecer
Deixo a seguinte mensagem:

Duas coisas me incomodam
Uma terceira me convém
Criança sendo explorada
Homem que não faz o bem
Gosto de quem não tem medo
Resolve o problema cedo
Denuncia e disca cem.

            VII

E.E.F João Moreira Barroso
                                                                                                                Salgado dos Moreiras
                                                                                                                                      Agosto / 2014

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