quarta-feira, 2 de setembro de 2015

PRÊMIO PETECA 2015 - SEMIFINALISTA - POESIA DE CORDEL - ASSARÉ


Causos do Meu Sertão

Quero que você me escute
Preste-me muita atenção
Pra lhe contar uma história
Lá das brenhas do sertão
Da cidade de Assaré
Terra do meu coração.

Ainda muito me dói
Lembrar de tão triste cena
Que não sai de minha mente
 Sei que valerá a pena
Contar pra você, leitor
Da prole de mãe Helena.

O mundo todo já sabe
Definir exploração
E quando o assunto é criança
Aumenta a preocupação
Nesse país de “Meu Deus”
Que almeja educação.

Dona Helena e Seu João
Sempre sofreram na vida
Não puderam estudar
Pois tão intensa era a lida
E logo se acostumaram
Com essa vida sofrida.

Dois filhos eles tiveram
Mas nada foi diferente
Faltava o que oferecer
Só uma vida indigente
Assim nem pais e nem filhos
Se consideravam gente.

Seu João era pedreiro
Com seu pai ele aprendeu
E a seus filhos ensinou
Todo esse trabalho seu
O lazer e a educação
Nenhum deles conheceu.

O Raimundo e o Josué
No pesado trabalhavam
E todos os seus direitos
Os seus pais lhes negavam
Achando que com trabalho
Eles logo se educavam.

Certo dia o Josué
Quis muito aprender a ler
Mas o pai não permitiu
Dizendo que do saber
Nenhum dos dois precisavam
E nada tinha a dizer.

Muito isso lhe entristeceu
E partiu-lhe o coração
Mas nada podia fazer
Seu pai era um grosseirão
Não percebia que no estudo
Estava a tal solução.

Raimundo era bem calado
Ao seu pai só obedecia
E de tijolo em tijolo
Muitas casas se fazia
E o trabalho só aumentava
À medida que crescia.

Coitada de Dona Helena
Via repetir a história
Os filhos só trabalhavam
Era a mesma trajetória
E o futuro das crianças
Não saía da memória.

Queria dar aos seus filhos
A educação que não teve
Mas o pai não entendia
E sua palavra manteve
Filho seu não estudava
E assim ninguém o deteve.

E nisso continuou
A vida desses meninos
Trabalho de sol a sol
Eram os seus destinos
Que não era diferente
Do de tantos nordestinos.

Num desses dias, por acaso
Josué se machucou
E não quis mais trabalhar
Logo ao pai desafiou
Dizendo que ia à escola
E ao trabalho não voltou.

O pai enfrentou o menino
Bateu o pé e lhe disse:
- Filho sempre me obedece,
Pare já com essa chatice,
Pra escola você não vai
Que lá é a mesma tolice.

O jovem não quis saber
Ao pai ignorou
E pediu até por piedade
Com a mãe se abraçou
A ela pediu apoio
Que comovida  falou:

- Meus filhos vão estudar
Que queira você ou não
Eu não aguento mais isso
Chega de insatisfação
Eles agora vão ter
Direito à educação.

A mãe logo procurou
O Conselho Tutelar
Do trabalho das crianças
Começou a relatar
Dizendo que o Seu João
Não ia mais explorar.

O Conselho agiu breve
Se colocando em ação
Muita coisa ali mudou
Os dois pra escola vão
Com um sorriso no rosto
E um olhar de gratidão.

Mas seu João nunca entendeu
O que fez a Dona Helena
E sem muita explicação
Protagonizou a cena
À família abandonou
Que ficou digna de pena.

Ninguém mais notícia teve
Sabe Deus onde estará
O pai da pobre família
Que abandonada está
Pois o homem do sertão
Não se permite afrontar.

Hoje a tão sofrida Helena
Trabalha sempre sozinha
Para criar os meninos
E manter sua casinha
Lavando roupa pro povo
E cuidando da cozinha.

Os meninos na escola
Aprenderam o bê-a-bá
É tanto contentamento
Que dá gosto de olhar
Até a professorinha
Já aprenderam a amar.

Disque cem e denuncie
Tão miserável dilema
Ou procure a quem compete
Solucionar o problema
Exploração infantil
Não aprove tal esquema.

Essa é a piedosa história
Que me prestei a contar
Pra você, caro leitor
Dos causos do Ceará
E que você se convença
Como é ruim explorar.

E se um dia você souber
D'alguma história contada
Ou mesmo presenciar
Alguma criança explorada
Faça também  sua parte
Isso não  lhe custa nada.

E por aqui me despeço
Contigo espero contar
Desejo que estas palavras
A muitos venha ajudar
E para você eu deixo
Minha poesia popular.

Maria Narjanna Gonçalves Ferreira da Silva
Profª. Ivaneide Gonçalves de Brito

Escola Batistina Braga

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