quarta-feira, 2 de setembro de 2015

PRÊMIO PETECA 2015 - SEMIFINALISTA - CONTO OU POESIA - ASSARÉ



Menino de Rua


Longe dali, numa cidadezinha pequena do interior cearense, morava José, Zezinho como todos o chamavam. Entre nove irmãos, ele era o que mais trabalhava, nunca pôde ir à escola. Não sabia o quão era bom ter coleguinhas, professores e poder conhecer todas as letrinhas. Às cinco horas da manhã, tinha de acordar para ir com seu pai à cidade, que ficava bastante distante da sua casa, para ajudá-lo na lida de todos os dias.
Zezinho trabalhava com aquilo que ninguém mais queria... era catador de lixo. Lá, ele encontrava outros garotinhos da mesma idade que a sua. Oito míseros aninhos! Apesar de disputar cada latinha encontrada com essas crianças, ele nem as olhava no rosto, primeiro porque teria de suportar os gritos do pai que o apressava, depois para evitar a dor de encarar o sofrimento presente em cada olhar.
Sempre que passava em frente à escola, ele parava no portão e ficava admirado observando o colorido que havia ali. Eram muitas crianças que brincavam, conversavam e se divertiam. Num desses dias, Zezinho pediu ao pai que lhe desse de presente uma escola e ouviu, amargamente, do pai que ele não nasceu para ser gente. Aquelas palavras transformaram-se em lágrimas nos olhos do garotinho, que, em silêncio, continuou a catar tudo que via pela frente.
Em casa, suas sete irmãs ajudavam a mãe também no pesado serviço. Uma lavava a louça, outra costurava e as demais faziam tantas coisas. E tinha o caçula de apenas 6 meses, que só chorava. As mulheres também ajudavam na roça, iam com o pai quando tinha algo para fazer. Zezinho também ia. Mas o roçado já não oferecia grandes coisas, a seca assolava cada vez mais o sertão e o que se plantava já não era produtivo.
E assim, seguia a vida de Zezinho e sua família, mas ele tinha a esperança que um dia mudaria. Frequentes foram as vezes que sua mãe o encontrou de joelhos fazendo orações e pedindo ao Padre Cícero a intercessão para que seu destino mudasse. A mãe em silêncio chorava sem nada dizer, nenhuma palavra de consolo se ouvia daquela mulher. O futuro era incerto, entretanto para aquela mãe a certeza era uma só: nada mudaria porque até ali não havia mudado.
Certa época do ano, é comum as família sertanejas fazerem romarias. Numa das romarias ao Padre Cícero, a família de Zezinho vai a cidade de Juazeiro do Norte fazer preces ao Santo Padre. Em meio a tantas pessoas, o menino se perde e, apesar dos pais o procurarem desesperadamente, não o encontraram, ou melhor, ele não se deixou encontrar. Pensava Zezinho que, ali, uma nova vida o aguardava, que aquilo que ele tanto sonhava seria conquistado. A família volta para casa e para sempre carregará a dor de um filho perdido e Zezinho passou, então, a conhecer o fatal destino de um menino de rua. Agora sem pai, sem mãe, sem um lar e também sem o sonho de um dia ter uma escola.


Alunos: Cícera Vitória Almeida da Costa
Laysla de Sousa Roseno
Profª. Ivaneide Gonçalves de Brito
Escola Batistina Braga
Assaré-CE








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