quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

VIRADOURO É CAMPEÃ DO RIO COM SAMBA SOBRE MULHERES, ESCRAVIDÃO E RESISTÊNCIA


Após 23 anos, a Viradouro sai de "alma lavada" com a grande campeã do carnaval 2020, no Rio de Janeiro. Foi o segundo título obtido pela escola de Niterói.  O primeiro foi conquistado em 1997. A disputa foi muito acirrada,  e com reviravoltas. No final da apuração, a Viradouro obteve mesma a pontuação da Grande Rio (269,6|), porém ganhou pelo critério de desempate, por ter tido melhor nota no quesito evolução. 

O enredo "Viradouro de alma lavada" falou sobre o grupo das Ganhadeiras de Itaupã, quinta geração de mulheres que lavavam roupa na Lagoa do Abaeté e faziam outros serviços em Salvador em busca da compra de sua alforria.

"Quando a gente viu esse enredo, a gente se apaixonou, uma história representativa, uma história muito bonita, que nos honrou muito fazer" disse o presidente da Viradouro, Marcelo Calil.

A escola contou com apoio de R$ 2,5 milhões da Prefeitura de Niterói. Em nota, o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, comemorou o título e disse que o investimento nas agremiações da cidade gera emprego, renda e movimenta a economia. 
A força da mulher negra foi o tema do samba que mostrou lavadeiras de Itapuã, na Bahia. Mulheres escravizadas que vendiam comida e lavavam roupas na Lagoa do Abaeté, em Salvador. Com o dinheiro, compravam a liberdade de outras mulheres escravizadas. O desfile mostrou as atividades que as Ganhadeiras exerciam: lavar roupa, carregar e vender água, cozinhar e vender alimentos, costurar, vender bugigangas etc. Essas mulheres foram exaltadas no desfile como as "primeiras feministas do Brasil", pela força que tiveram para ir atrás da liberdade e pela importância para a cultura da Bahia. O grupo de encerramento se chamava "Lute como uma mulher!", e levou mulheres negras ligadas à pauta feminista para a avenida.
O samba-enredo de Dadinho, Fadico, Rildo Seixas, Manolo, Anderson Lemos, Carlinhos Fionda e Alves fala do grupo musical baiano que surgiu dos cantos, danças, crenças e da força daquelas lavadeiras. 

Ora yê yê o oxum! Seu dourado tem axé
Fiz o meu quilombo no Abaeté
Quem lava a alma desta gente veste ouro
É Viradouro! É Viradouro!

Levanta preta que o Sol tá na janela
Leva a gamela pro xaréu do pescador
A alforria se conquista com o ganho
E o balaio é do tamanho do suor do seu amor

Nenhum comentário:

Postar um comentário