sexta-feira, 11 de setembro de 2020

"DEIXA A MOLECADA TRABALHAR" DIZ BOLSONARO SOBRE TRABALHO INFANTIL


Presidente criticou atuação do Ministério Público do Trabalho em face do relojoeiro de Catalão-GO por apologia ao trabalho infantil. O empresário gravou um vídeo no dia dos pais com  menino engraxate que queria comprar um relógio para o pai. 

Em transmissão nas redes sociais durante a noite desta quinta-feira (10/9), o presidente Jair Bolsonaro voltou a apoiar o trabalho infantil, a pesar de e Constituição Federal e de o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) proibir a exploração do trabalho de crianças e adolescentes com menos de 16 anos de idade.
Bolsonaro abordou o assunto ao comentar o episódio de um empresário de Catalão (GO) que gravou um vídeo com um menino engraxate  que pretendia comprar um relógio como presente no dia dos pais com o dinheiro que ganhou no trabalho infantil.
Em agosto, um vídeo que viralizou na internet mostrou relojoeiro  dando o produto de graça para a criança depois de o menino ter usado toda a quantia que havia juntado engraxando sapatos para adquirir o item.
O Ministério Público do Trabalho notificou o empresário, que esclareceu o contexto social em que se deu fato e assinou um  acordo se comprometendo a não mais fazer apologia ao trabalho infantil.
Bolsonaro criticou a atuação do MPT. "O Ministério Público do Trabalho notificou o dono da relojoaria dizendo que estava fazendo apologia ao trabalho infantil. A que ponto chegamos?", questionou.
"Deixa o moleque trabalhar, poxa. Eu trabalhei. Outro dia eu falei que aprendi a dirigir com 12 anos de idade. Eu já engraxei sapatos. Molecada quer trabalhar, trabalha", acrescentou o presidente, que enfatizou: “Deixa a molecada trabalhar. Hoje se um moleque está lá na Cracolândia eu acho que ninguém faz nada".
O MPT em Goiás publicou em sua página, a nota abaixo transcrita,  esclarecendo a sua atuação no caso:

“O Ministério Público recebeu uma denúncia de mensagem de Apologia ao Trabalho Infantil por meio de um vídeo produzido por uma relojoaria, por ocasião do Dia dos Pais.

De início, esclareça-se que o comerciante foi tratado de forma muito respeitosa. Não foi punido, nem condenado nem multado.

A primeira atenção do Ministério Público do Trabalho foi com a situação da família em relação às Políticas Públicas de Proteção Integral à Criança. A imediata articulação com o sistema local de garantia de direitos, certificada pelo Conselho Tutelar e pela Promotoria de Justiça da Infância, apontou que a família está sendo acompanhada pela Rede de Proteção, recebendo benefícios, e a criança frequenta a escola.

O segundo foco da atuação foi ouvir e orientar o comerciante que produziu e divulgou o vídeo.

O trabalho nas ruas é reconhecido oficialmente como uma das Piores Formas de Trabalho Infantil (Decreto nº 6.481, de 2008), expondo a criança a muitos riscos. A situação de Trabalho Infantil, como regra, atinge os mais pobres e, além de permitir a exploração da criança em situações de graves riscos, impede a convivência familiar, a formação escolar e o acesso ao trabalho de melhor remuneração, reproduzindo o ciclo da pobreza.

A nossa Constituição declara que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar, à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, direitos contidos no princípio da Proteção Integral. Na ordem Internacional, o Brasil comprometeu-se perante os países civilizados a observar a idade mínima para o trabalho e eliminar as piores formas de trabalho infantil (Convenção nº 182/OIT).

Em audiência com o comerciante, conduzida de forma muito respeitosa, observou-se que se trata de uma pessoa simples, com história de muitas dificuldades e trabalho desde muito cedo. Há inclusive o histórico de uma doença crônica muito grave que pode ter resultado da exposição a situações de risco vivenciada por ele no trabalho precoce.

O comerciante, que só concluiu o ensino fundamental quando já era adulto, e se preocupa com a educação dos filhos, reconheceu ter consciência de que a sua própria vida teria sido menos difícil se tivesse tido a oportunidade de estudar quando era criança.

Com a orientação de um Advogado que o acompanhou, firmou um acordo com apenas dois tópicos:

1 - evitar divulgar mensagens que possam estimular o trabalho infantil; e
2 - autorizou a divulgação do depoimento e da própria história dele como exemplo dos danos causados pelo Trabalho Infantil.

A história do comerciante do interior goiano, que reconhece ser vítima do trabalho precoce, que pune os mais pobres, é mais um alerta para a necessidade de que permaneçamos vigilantes e atuantes nessa causa fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e com oportunidade para todos”

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