terça-feira, 24 de novembro de 2020

NOTA PÚBLICA CONTRÁRIA À EDUCAÇÃO DOMICILIAR APROVADA EM 1º TURNO PELA CLDF

A sociedade civil, representantes de diversas organizações e comunidades do Distrito Federal em defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes e demais instituições signatárias, inclusive de atuação em nível nacional vêm, por meio desta, expressar repúdio a aprovação na Câmara Legislativa, em primeiro turno, de projeto de lei que estabelece o ensino domiciliar (homeschooling) no Distrito Federal. 

Em primeiro lugar ressaltamos a inconstitucionalidade da proposta, tendo em vista que criar modalidades de ensino não é de competência dos entes subnacionais, como o Distrito Federal, pois, de acordo com o art. 22 da Constituição de 1988, definir as diretrizes e bases da educação nacional é competência privativa da União. O Brasil, como bem apontou o Pleno do Supremo Tribunal Federal, não possui legislação que regulamente preceitos e regras aplicáveis a modalidade de ensino de Educação Domiciliar. Assim, qualquer alteração na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, cabe ao Congresso Nacional.  A Constituição define, ainda, que a educação básica é obrigatória dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade e o art. 6º da Lei 9.394 de 1996, que é dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro) anos de idade.

Além disso, o art. 205 da Constituição Federal estabelece que a educação, direito todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Nessa esteira, a inconstitucionalidade permanece na seletividade da educação, sendo a educação domiciliar contrária à universalidade da política pública, a que se refere o texto constitucional.

Aprovado no último dia 17 de novembro (2020), o texto é um substitutivo da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aos projetos de lei nº 356/2019, do deputado João Cardoso (Avante), nº 1.167/2020, dos deputados Júlia Lucy (Novo), Delmasso (Republicanos) e Eduardo Pedrosa (PTC), e nº 1.268/2020, do Poder Executivo. 

É importante registrar que a criança e o adolescente são sujeitos de direitos e não propriedade da família. Devem ter reconhecido o seu direito à socialização, à convivência comunitária e a ser parte de um mundo inclusivo, aprendendo a lidar com as diferenças. A sua participação e vivência na comunidade escolar são imprescindíveis para a efetiva inclusão social e formação como cidadãos e cidadãs. 

A política da educação visa justamente assegurar os direitos fundamentais previstos no art. 227 da Constituição Federal, que institui a doutrina da proteção legal, regulamentada posteriormente pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB. 

O Brasil está entre os 20 países que mais violenta crianças e adolescentes em âmbito doméstico. De acordo com os dados do Disque 100 (2019), 73% dos casos de violência contra crianças e adolescentes acontecem na casa da vítima ou do suspeito, sendo que 64% dos agressores são do convívio familiar da criança ou do adolescente (mãe, pai, padrasto e tios). Em relação à violência sexual, 87% dos agressores são homens e destes 40% são os pais ou padrastos das vítimas. 

Sabe-se que a escola é o espaço principal de denúncias de tais violações. Assim, acreditamos que o aumento das violências sexual, física e psicológica, além da negligência e explorações de toda ordem serão ainda mais invisibilizadas pelo ensino domiciliar. 

Em relação à exploração do trabalho infantil, sabe-se que um grande percentual dessa exploração, principalmente em suas piores formas, acontece no trabalho doméstico, em seus próprios domicílios ou nos de terceiros; assim como a exploração de crianças e adolescentes nas ruas trabalhando com ou para familiares. A presença na escola é uma das mais efetivas formas de prevenção à exploração do trabalho de crianças e adolescentes, que tem como consequências nefastas a manutenção do ciclo de pobreza, além de prejuízos para o seu desenvolvimento físico, biológico e psicossocial. 

A escola, além de espaço pedagógico, educativo, de socialização, de inclusão e desenvolvimento de crianças e adolescentes, é também espaço de proteção. Manter seres humanos em uma fase peculiar de desenvolvimento apenas dentro de suas casas é uma afronta aos direitos fundamentais postos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. 

A desigualdade no ensino é outra grande preocupação, pois o Brasil possui alto nível de analfabetismo entre os adultos e a modalidade do ensino domiciliar pode agravar esse problema, uma vez que a grande maioria das famílias brasileiras não terá condições socioeconômicas e psicossociais para a oferta dessa modalidade de ensino, mas poderão requerer esse “direito”, se assim a CLDF entender, para submeter crianças e adolescentes a situações acima explicitadas. 

Entendemos que cabe ao Estado investir mais recursos públicos para garantir a melhoria das condições das escolas públicas, de modo a atender, de forma plena e universal o direito à educação, assegurando a proteção das crianças e adolescentes, bem como a promoção de seus direitos. 

Por fim, é ultrajante não haver amplo debate junto à comunidade do Distrito Federal, além do desrespeito a manifestação de crianças e adolescentes sobre matéria que trata de seus direitos, garantindo o princípio constitucional e das leis correlatas, como a lei Distrital Nº 4.751/2012, que garantem a participação da comunidade local e escolar nas decisões referentes à educação, efetivando assim a gestão democrática da educação pública. 

Repudiamos os votos favoráveis e nos colocamos em defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes pela manutenção da convivência comunitária, social e inclusiva em espaço escolar ofertado pelo Estado. 


ASSINAM ESTA NOTA 

 

1.                 Aconchego - Grupo de Apoio à Convivência Familiar e Comunitária 

2.                 Aldeias Infantis SOS Brasil

3.                 AMOPETI - Adolescentes Mobilizados pela Prevenção e Erradicação do Trabalho

Infantil 

4.                 AMORA - Movimento Popular por Moradia do DF e entorno

5.                 ANDI Comunicação e Direitos 

6.                 Associação Brasileira de Autismo, Comportamento e Intervenção (ABRACI)

7.                 Associação Internacional Maylê Sara Kalí-AMSK/Brasil 

8.                 Associação Mãos Amigas – AMAS

9.                 Associação Nacional de Educação Católica – ANEC

10.             Associação Nacional de Politicas e Administração da Educação - DF

11.             Associação Nacional dos Centros de Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes (ANCED) 

12.             Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação - DF 

13.             Associação Nairim 

14.             Avante Educação e Mobilização Social

15.             Casa Azul 

16.             Casa da Paternidade 

17.             Casa de Ismael 

18.             CECRIA - Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes 

19.             Central de Movimentos Populares- CMP 

20.             Central dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil 

21.             Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Yves de Roussan 

22.             Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente do Distrito Federal - CEDECA DF  

23.             Centro de Educação Paulo Freire de Ceilândia 

24.             Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infancia- Ciespi

25.             Centro de Formação Popular da Juventude 

26.             CEI - Cultura, Educação e Infâncias

27.             CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação 

28.             Coletivo da Cidade 

29.             Coletivo de Mulheres com Deficiência DF

30.             Coletivo PsiDF 

31.             Comissão Justiça e Paz CNBB 

32.             Comitê do Distrito Federal da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, com apoio da Coordenação Geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação 

33.             Comitê Nacional de Enfrentamento a Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes

34.             CONAPETI - Comitê Nacional de Adolescentes pelo Prevenção e Erradicação do

Trabalho Infantil

35.             Congregação São João Batista - Instituto Promocional Madalena Caputo. 

36.             Conselho Tutelar Brasília I 

37.             Coordenadoria de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente no DF/MPT 

38.             CRESS DF - Conselho Regional de Serviço Social 

39.             CRP DF - Conselho Regional de Psicologia do DF 

40.             CUT DF – Central Única das Trabalhadoras e Trabalhadores do DF 

41.             D&M Consultoria e Assessoria Social 

42.             DCE Honestino Guimarães – Universidade de Brasília  43.    Distrito Drag 

44.             Elo Mulheres REDE DF 

45.             Eu me Protejo 

46.             Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas- FENATRAD 

47.             Fórum Colegiado Nacional de Conselheiros Tutelares do DF - FCNCT 

48.             Fórum Comunitário e de Entidades do Gama - FCom/Gama 

49.             Fórum DCA DF – Fórum de Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes do Distrito Federal

50.             Fórum de Aprendizagem do DF 

51.             Fórum de Educação Infantil do Distrito Federal- FEIDF 

52.             Fórum de Lutas LGBTQI +D DFE 

53.             Fórum de Mulheres DFE 

54.             Fórum de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Adolescente trabalho do Distrito Federal – FPETI/DF 

55.             Fórum Distrital de Educação

56.             Fórum Nacional de Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes - FNDCA 

57.             Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil

58.             Frente Parlamentar Mista de Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente no Congresso Nacional 

59.             INESC

60.             Instituto Berço da Cidadania 

61.             Instituto do Carinho 

62.             Instituto dos Direitos da Criança e do Adolescente (INDICA) 

63.             Instituto Espírito de Luz - IEL 

64.             Instituto inclusão 

65.             Instituto Trabalho Decente 

66.             Instituto Solar do Sentir, Educação e Vida

67.             Instituto Viva Mulher Direitos e Cidadania

68.             Levante Popular da Juventude 

69.             Mães Pela Diversidade 

70.             Marcha Mundial das Mulheres DF 

71.             MECE - Movimento de Educação e Cultura da Estrutural 

72.             MOVECE - Associação Movimento Vida, Ética, Cidadania e Espiritualidade 

73.             Movimento de Meninos e Meninas de Rua DF 

74.             Movimento de Educação de Base - MEB

75.             Movimento Down 

76.             Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil (MIEIB)

77.             Movimento Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis do DF (MNCR/DF)  

78.             Movimento Negro Unificado

79.             Movimento Popular Por Uma Ceilândia Melhor  

80.             Movimento Pro Saúde Mental DF

81.             MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

82.             Núcleo de Estudos pra Infância e Juventude NEIJ/UnB 

83.             Obras Sociais do Centro Espírita Irmão Áureo 

84.             Pastoral do Menor - Arquidiocese de Brasília

85.             PETECA - Programa de Educação contra a Exploração do Trabalho da Criança do Adolescente 

86.             Ponto de Cultura Ludocriarte

87.             Projeto de Extensão Ciências Sociais nas Escolas do Depto. de Sociologia da Universidade de Brasília

88.             Rede ECPAT Brasil 

89.             Rede Emancipa Movimento Social de Educação Popular 

90.             Rede Primeira Infância de Pernambuco - REPI

91.             Rede Não Bata, Eduque 

92.             Secretaria de Mulheres do PSB DF

93.             Secretaria de Mulheres do PT DF 

94.             Setorial de Mulheres do PSOL DF 

95.             Sindicato dos Professores do DF - SINPRO/DF 

96.             Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal- SINPROEP 

97.             Sindicato dos Servidores da Assistência Social e Cultural do GDF - SINDSASC

98.             Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEFE) - Brasília 

99.             SINTIBREF DF  100. Teia Solidária 

101.          Trafem - Coletiva Trafeminista 

102.          UBM- União Brasileira de Mulheres 

103.          ULTRA - União Libertária de Travestis e Mulheres Transexuais

104.          Vila da Cidadania 

105.          Visão Mundial


 

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