Certa
vez havia um enorme casarão em terras muito ricas e de alta aquisição. Todos
que por ali passavam se admiravam com tanta beleza, mas somente quem lá
trabalhava, sabia a triste realidade por trás daquelas belas paredes.
Em uma
pequena casinha ao fundo, moravam Manuela e sua família que trabalhavam
duramente naquela fazenda, mas mesmo o trabalho sendo exaustivo para eles,
nunca se deixavam levar pelo cansaço e desânimo que os perseguiam todos os
dias.
Logo
pela manhã, a garota e seu pai já estavam na lavoura de cana-de-açúcar. Ela
carregava suas ferramentas e uma lanterna para iluminar o caminho por onde
aquele corpo miúdo, pequeno e cansado passava. Ao longo do percurso de
estreitas passagens no meio do canavial, levantava a cabeça para não se perder
entre tamanha plantação.
Aos
doze anos, não só tinha o trabalho duro marcado na sua memória infantil, mas
também no corpo, suas mãos já haviam perdido suas delicadas linhas que deram
lugar à aspereza daquela vida cruel. Trabalhava na cana-de-açúcar, mas o doce
produzido pela planta não tornava sua vida menos amarga.
Em
mais um dia de trabalho pesado, Manu, como a chamavam, não sabia o que viria
pela frente. Cortava as folhas da cana com um facão, quando sua lâmina afiada
se soltou, sem piedade, atingindo seu braço esquerdo. Pouco a pouco, a terra
foi ficando molhada de sangue e lágrimas daquela criança.
Ela
foi socorrida e levada ao Pronto Socorro. Depois de uma rigorosa consulta, o
médico perguntou à menina:
_ Como você se feriu assim?
A
menina, cansada de tanto sofrimento e de ver sua infância perdida, mesmo com
receio, contou tudo ao médico. Imediatamente, ele se encarregou de denunciar
aquele trabalho à polícia. Ajudou o pai a conseguir um trabalho na cidade,
orientou a mãe quanto à sua aposentadoria que, brevemente, foi concedida. E Manu
entrou, pela primeira vez, em um lugar onde havia mães que ensinavam a ler e a
escrever, irmãos que moravam na mesma casa e uma placa dizendo: “Seja bem-vinda
à nossa escola!”
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