quinta-feira, 16 de novembro de 2017

PREMIO MPT NA ESCOLA - CONTO DO MUNICÍPIO DE PATROCÍNIO-MG

O amargo da cana-de-açúçar

Certa vez havia um enorme casarão em terras muito ricas e de alta aquisição. Todos que por ali passavam se admiravam com tanta beleza, mas somente quem lá trabalhava, sabia a triste realidade por trás daquelas belas paredes.
Em uma pequena casinha ao fundo, moravam Manuela e sua família que trabalhavam duramente naquela fazenda, mas mesmo o trabalho sendo exaustivo para eles, nunca se deixavam levar pelo cansaço e desânimo que os perseguiam todos os dias.

Logo pela manhã, a garota e seu pai já estavam na lavoura de cana-de-açúcar. Ela carregava suas ferramentas e uma lanterna para iluminar o caminho por onde aquele corpo miúdo, pequeno e cansado passava. Ao longo do percurso de estreitas passagens no meio do canavial, levantava a cabeça para não se perder entre tamanha plantação.
Aos doze anos, não só tinha o trabalho duro marcado na sua memória infantil, mas também no corpo, suas mãos já haviam perdido suas delicadas linhas que deram lugar à aspereza daquela vida cruel. Trabalhava na cana-de-açúcar, mas o doce produzido pela planta não tornava sua vida menos amarga.

Em mais um dia de trabalho pesado, Manu, como a chamavam, não sabia o que viria pela frente. Cortava as folhas da cana com um facão, quando sua lâmina afiada se soltou, sem piedade, atingindo seu braço esquerdo. Pouco a pouco, a terra foi ficando molhada de sangue e lágrimas daquela criança.
Ela foi socorrida e levada ao Pronto Socorro. Depois de uma rigorosa consulta, o médico perguntou à menina:
   
 _ Como você se feriu assim?

A menina, cansada de tanto sofrimento e de ver sua infância perdida, mesmo com receio, contou tudo ao médico. Imediatamente, ele se encarregou de denunciar aquele trabalho à polícia. Ajudou o pai a conseguir um trabalho na cidade, orientou a mãe quanto à sua aposentadoria que, brevemente, foi concedida. E Manu entrou, pela primeira vez, em um lugar onde havia mães que ensinavam a ler e a escrever, irmãos que moravam na mesma casa e uma placa dizendo: “Seja bem-vinda à nossa escola!”              

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