Acordamos às 4:00h, já não era
necessário um despertador, parecia que lá dentro de nossa cabeça havia um
relógio que às quatro horas em ponto, começava a gritar: “Vamos...acorde para
trabalhar”. Levantei, chamei meu irmão Augusto. Era necessário chamá-lo, pois o
coitado só tinha 8 anos e precisava trabalhar. Meu nome é Bianca, tenho 10
anos. Nós trabalhamos, pois, meus pais
não conseguem sustentar a casa sozinhos. Peguei minhas roupas e a de Augustinho
dentro de uma caixa que ficava no chão, não tínhamos guarda-roupa, isso é coisa
“chique”.
Saímos correndo, já imaginando
a cara fechada do turmeiro, nos esperando com uma bronca daquelas. Ao entrar no
ônibus ficávamos a pensar nos nossos sonhos de ir para escola, poder brincar,
ter amigos... meus pensamentos foram interrompidos pelos gritos do motorista
dizendo: “chegamos pessoal”!
Descemos do ônibus, meus pais
foram para o lado mais denso do canavial, eu e meu irmão continuamos onde
havíamos parado. Não sei explicar, mas, estava com um pressentimento de que
algo ruim, iria acontecer. De repente meus pensamentos foram interrompidos
pelos gritos do Augustinho, que por uma fatalidade, ao cortar uma cana acertou
o pulso com o facão. Comecei a gritar por socorro, o turmeiro demorou a chegar,
meu irmão sangrava muito. Quando ele chegou entramos no carro e passamos onde
meus pais estavam para irmos ao hospital. Porém, como ele já havia perdido
muito sangue, não resistiu e morreu no meio do caminho. Minha mãe chorava e
gritava, meu pai tentava consolá-la mas víamos que ele estava desesperado.
O enterro foi na manhã
seguinte. Naquela noite, fiquei imaginando quantas crianças já deviam ter
morrido no corte de cana... Pensava
também, nos momentos felizes com meu irmão... Com lágrimas nos olhos adormeci,
triste por não poder fazer nada para mudar aquela situação.
Acordei com o barulho de uma
conversa na sala. Era o Conselho Tutelar que havia sido informado do
acontecido. Eles convenceram meus pais a me matricular em uma escola. Meus pais
conseguiram outro trabalho e minha mãe passou a receber o bolsa família. Ainda
estamos pobres mas lutamos por uma vida mais digna. Estou me dedicando aos
estudos para quem sabe, no futuro, conseguir ter uma vida melhor.
Sabe o motivo de eu estar
contando minha história a vocês? Peço sua ajuda. O mundo pode melhorar sabia? O
trabalho infantil afeta o desenvolvimento físico, emocional e social da
criança. Denuncie ao Conselho Tutelar ou a autoridades responsáveis.
Conto do Município de Ipameri-GO
2º lugar no Prêmio MPT na Escola 2016
Parabéns filha mamãe orgulhosa demais😍😍
ResponderExcluir