Escrever uma nova história*
Natália
Cristina Piamonte José
Morar
com a tia Lorita não era fácil. Depois
da morte dos meus pais, não tive alternativa. A vida me jogara mundo a fora e
somente ela poderia cuida de mim; assim era o que dizia o jiz, determinando a
minha saída do abrigo.
Da janela
do último andar, vi um grande carro chegando, e de óculos escuros, lá estava
minha tia. A assistente social bateu na porta do quarto, me chamando para pegar
minhas coisas.
Depois
de uma longa viagem ao interior de São Paulo, chegamos a Santo Antonio da
Alegria, um lugar pequeno, porém muito acolhedor. A casa da minha tinha era uma
das mais bonitas daquele lugar, tinha uma piscina, em frente havia uma praça e
com um campo de futebol ali perto. Então pensei que seria a criança mais feliz
do mundo, afinal tudo o que eu queria estava a poucos metros de mim. Ah, e a
escola era bem diferente da minha, tinha até uma horta e um cachorro que as
crianças adoravam cuidar.
Os
dias foram passando e minha tia não me deixava sair do quarto, nem para brincar
e acredite, nunca fui à escola.
Apenas via as crianças indo e vindo de lá. Os meninos felizes no campinho do
futebol.
A
única coisa que ouvia todos os dias era: “Vai limpar a casa!” “Olha esses
móveis, estão sujos!” “Não lavou a louça ainda?” “Sai dessa janela!”. E quando
eu não fazia direito, sempre ficava de castigo no porão, no qual eu era
proibido de mexer no baú. Minha tia sempre dizia para ficar longe dele, mas certo
dia, com minha curiosidade, resolvi abrir e ver o que havia dentro.
Acabei
por encontrar o diário dela dentro daquele baú. Comecei a ler e todos os
relatos da minha tia eram referentes ao trabalho dela quando criança. Minha avó
a explorava. Agora entendo o motivo de me tratar assim.
Decidi
falar com tia Lolita e explicar que ela pode construir uma nova história e me
deixar ser criança, pois tenho meus direitos.
A
nossa conversa foi produtiva, apesar de muitas lágrimas. Tia Lolita me pediu
desculpas e prometeu que a partir daquele momento tudo seria diferente.
Hoje
vou à escola todos os dias e não faço mais todos os serviços domésticos. Minha tia
me ajuda em tudo que preciso. Posso dizer que sou uma criança feliz.
Conto
vencedor da etapa estadual do Prêmio MPT na Escola, no interior de São Paulo (área
de abrangência da PRT da 15ª Região. Escrito por Natália Cristina Piamonte, sob
a orientação da professora Karina Piore Ferrão, da Escola Municipal de Ensino
Fundamental Coronel Joaquim da Cunha, do Município de Altinópolis-SP.
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