A CRIANÇA QUE NÃO PODIA BRINCAR
Dizem os mais antigos que
Esperançópolis era uma cidadezinha tranquila e apesar de urbana, possuía
resquícios de uma cidade do interior: as pessoas se cumprimentavam, os
passarinhos contrastavam seu canto com o barulho dos automóveis, era possível
ver crianças brincando de bolinha de gude e amarelinha. Mas diariamente,
fizesse sol ou chuva algumas delas catavam pelas ruas tudo o que podia ser
vendido. Mesmo com estes traços, a cidade possuía como indício da urbanização a
exploração do trabalho infantil.
Entre aquelas crianças de rua, Ana era
a mais sonhadora. Aos sete anos, não sabia ler nem escrever, mas sabia contar.
Contava estrelas, pedrinhas e as moedinhas que entregava a mulher que obrigava
ela e outras crianças a conseguir. Se trazia pouco dinheiro, a mulher
esbravejava e a deixava sem comer. Apesar disso, não deixava de acreditar,
adormecia com fome, mas contado as estrelas no céu. Quando Ana via as outras
crianças a caminho da escola, viajava em seus pensamentos. À noite, chorava
baixinho, se perguntando o que tinha feito para o papai do céu lhe deixar ali.
Um dia Ana decidiu ir à
escola, perguntar se podia assistir aulas. Porém, ao chegar na entrada, alguns
alunos debocharam de sua aparência. Ela segurou as lágrimas como pode, mas foi
inevitável o choro. Seu pranto sincero soava como um grito de desespero.
Algumas pessoas começaram a olhar a cena diante da escola e se deram conta do sofrimento
das crianças exploradas de Esperançópolis. Essas pessoas até reclamavam aos
alunos, mas era em vão. Algum tempo depois a professora Sônia chegou e quando
se deu conta que os alunos humilhavam uma criança daquela forma ficou
estarrecida e chamou a atenção deles.
Após a repreensão, os
alunos acabaram se dando conta do que estavam fazendo. O maior do grupo pediu
desculpas a menina e correu envergonhado. Os demais fizeram o mesmo e foram
para suas salas. De cabeça baixa, sentada sobre os pezinhos, Ana chorava. Sônia
se aproximou e percebeu o quanto a criança era maltratada, fez algumas
perguntas e depois de um tempo, ouviu uma vozinha presa: - Eu só queria poder
entrar na escola. Mas disseram que não posso e este não é o meu lugar.
Com aquelas palavras, a
professora, sentiu que deveria fazer algo. Pediu folga no trabalho e procurou conhecer melhor
a Ana. Viu a realidade da exploração vivida por ela e outras crianças. Pediu
ajuda de amigos próximos, pois naquele tempo havia poucas leis de proteção à
criança. Depois de muito esforço e “nãos”, conseguiu um abrigo para Ana e as
outras crianças abandonadas nas ruas. A professora ainda lhe ajudou a conseguir
vaga na escola. A menina ficou muito feliz.
Os antigos contam que naquela cidade nunca
houve aluna mais dedicada. O tempo passou e a menina de olhinhos tristes cresceu,
formou-se e viveu o resto de seus dias na luta pelos direitos das crianças que,
como ela, viveram a dura realidade de não poderem nem brincar de ser feliz.
ESCOLA PADRE OSVALDO CHAVES
MODALIDADE: LITERATURA
SUB-MODALIDADE: CONTO
TÍTULO: A CRIANÇA QUE NÃO PODIA BRINCAR
PROFESSORA: MARIA VANESSE ANDRADE
ALUNA: ALINE SOUSA DOS SANTOS
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