sábado, 1 de dezembro de 2012

PRÊMIO PETECA 2012 - CONTO DE SOBRAL

A CRIANÇA QUE NÃO PODIA BRINCAR


Dizem os mais antigos que Esperançópolis era uma cidadezinha tranquila e apesar de urbana, possuía resquícios de uma cidade do interior: as pessoas se cumprimentavam, os passarinhos contrastavam seu canto com o barulho dos automóveis, era possível ver crianças brincando de bolinha de gude e amarelinha. Mas diariamente, fizesse sol ou chuva algumas delas catavam pelas ruas tudo o que podia ser vendido. Mesmo com estes traços, a cidade possuía como indício da urbanização a exploração do trabalho infantil.


Entre aquelas crianças de rua, Ana era a mais sonhadora. Aos sete anos, não sabia ler nem escrever, mas sabia contar. Contava estrelas, pedrinhas e as moedinhas que entregava a mulher que obrigava ela e outras crianças a conseguir. Se trazia pouco dinheiro, a mulher esbravejava e a deixava sem comer. Apesar disso, não deixava de acreditar, adormecia com fome, mas contado as estrelas no céu. Quando Ana via as outras crianças a caminho da escola, viajava em seus pensamentos. À noite, chorava baixinho, se perguntando o que tinha feito para o papai do céu lhe deixar ali.


Um dia Ana decidiu ir à escola, perguntar se podia assistir aulas. Porém, ao chegar na entrada, alguns alunos debocharam de sua aparência. Ela segurou as lágrimas como pode, mas foi inevitável o choro. Seu pranto sincero soava como um grito de desespero. Algumas pessoas começaram a olhar a cena diante da escola e se deram conta do sofrimento das crianças exploradas de Esperançópolis. Essas pessoas até reclamavam aos alunos, mas era em vão. Algum tempo depois a professora Sônia chegou e quando se deu conta que os alunos humilhavam uma criança daquela forma ficou estarrecida e chamou a atenção deles.


Após a repreensão, os alunos acabaram se dando conta do que estavam fazendo. O maior do grupo pediu desculpas a menina e correu envergonhado. Os demais fizeram o mesmo e foram para suas salas. De cabeça baixa, sentada sobre os pezinhos, Ana chorava. Sônia se aproximou e percebeu o quanto a criança era maltratada, fez algumas perguntas e depois de um tempo, ouviu uma vozinha presa: - Eu só queria poder entrar na escola. Mas disseram que não posso e este não é o meu lugar.


Com aquelas palavras, a professora, sentiu que deveria fazer algo.  Pediu folga no trabalho e procurou conhecer melhor a Ana. Viu a realidade da exploração vivida por ela e outras crianças. Pediu ajuda de amigos próximos, pois naquele tempo havia poucas leis de proteção à criança. Depois de muito esforço e “nãos”, conseguiu um abrigo para Ana e as outras crianças abandonadas nas ruas. A professora ainda lhe ajudou a conseguir vaga na escola. A menina ficou muito feliz.


 Os antigos contam que naquela cidade nunca houve aluna mais dedicada. O tempo passou e a menina de olhinhos tristes cresceu, formou-se e viveu o resto de seus dias na luta pelos direitos das crianças que, como ela, viveram a dura realidade de não poderem nem brincar de ser feliz.



ESCOLA PADRE OSVALDO CHAVES
MODALIDADE: LITERATURA
SUB-MODALIDADE: CONTO
TÍTULO: A CRIANÇA QUE NÃO PODIA BRINCAR
PROFESSORA: MARIA VANESSE ANDRADE
ALUNA: ALINE SOUSA DOS SANTOS

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