domingo, 21 de novembro de 2021

Estudantes quilombolas enfrentam três dias de barco para fazer Enem no interior do AM

Estudantes viajaram três dias de barco para chegar em Novo Airão — Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

 

Jovens moram na comunidade quilombola Jaú Tambor, no Parque Nacional do Jaú. Para enfrentar a jornada, levaram redes, camas e até um fogão dentro do barco.

 Por Matheus Castro, g1 AM

Dez estudantes quilombolas da Comunidade Jaú Tambor, no interior do município de Novo Airão, interior do Amazonas, enfrentaram três dias de barco para fazer o Exame Nacional do Ensino Médio neste domingo (21), na sede do município. Essa é a primeira vez que eles farão a prova.

 

Em todo o Amazonas, mais de 79 mil candidatos se inscreveram para participar do Enem 2022. As provas acontecem neste domingo e no próximo (28).

 

Segundo a coordenadora regional de educação da área, Neliany Menezes, os jovens saíram da comunidade, localizada no Parque Nacional do Jaú, na quarta-feira (17) e chegaram ao município na manhã desse sábado (20). Foram mais de 700 litros de combustível e muito chão, ou melhor, água pela frente para chegar até lá. Para enfrentar a jornada, eles levaram redes, camas e até um fogão dentro do barco.

 

"Quando foi na terça-feira eles entraram em contato conosco dizendo que tinham conseguido o barquinho com um morador, porque lá não tem o que nós chamamos de recreio, que é aquele barco que passa periodicamente no local. O transporte é por conta deles mesmo. E aí eles conseguiram o barquinho, demos o nosso jeito aqui de conseguir o combustível, conseguimos até local para eles ficarem aqui na cidade".

 

E se a preparação dos jovens, em tempos normais, já era difícil por conta da distância da comunidade e dos desafios impostos a quem vive no interior do Amazonas, a pandemia piorou ainda mais o cenário. Todavia, a professora explica que buscou na tecnologia uma forma de ajudar os estudantes a realizarem o vestibular.

 

"Mantínhamos contato com eles de forma online para eles não se desmotivassem. Uma das coisas que nós buscamos foi fazer de tudo para que eles pudessem vir fazer a prova. Eles nunca fizeram um vestibular. Então houve todo um preparo com alguns projetos da secretaria de educação e esses projetos eram enviados de forma online para que eles se preparassem. Até os simulados fizemos de forma online com eles", contou a professora.

 

A professora também conta que os estudantes têm o sonho de se formar e ajudar a comunidade. Segundo ela, a educação é a única porta aberta para os jovens, que precisam se dividir entre os estudos e a ajuda aos pais no campo.

 

"Eles sobrevivem de caça. Eles não podem vender porque é área de reserva e então só podem consumir. O meio deles de vida é a caça e a pesca. É uma realidade difícil e a única porta que abre mesmo nesse momento é a educação".

 

Por conta da distância entre o município e a comunidade, os estudantes vão precisar ficar na cidade até o próximo domingo (28) para realizarem a segunda fase do exame. Caso voltassem para suas casas, não conseguiriam chegar a tempo de concluir a prova.

 

"Eles não tem como voltar porque já vai ser no próximo domingo e aí se eles voltarem não vai ter como vir de volta, porque são três dias de barco. Eles vão precisar ficar aqui. Aí a gente já entrou em contato com a secretaria, conseguimos apoio, local, já conseguimos gás, vamos nos organizar aqui e eles vão fazer essa segunda fase da prova sim".


Fonte: G1 AM

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