![]() |
Estudantes viajaram três dias de barco para chegar em Novo Airão — Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal |
Jovens moram na comunidade quilombola Jaú Tambor, no Parque Nacional do Jaú. Para enfrentar a jornada, levaram redes, camas e até um fogão dentro do barco.
Dez estudantes
quilombolas da Comunidade Jaú Tambor, no interior do município de Novo Airão,
interior do Amazonas, enfrentaram três dias de barco para fazer o Exame
Nacional do Ensino Médio neste domingo (21), na sede do município. Essa é a
primeira vez que eles farão a prova.
Em todo o Amazonas, mais
de 79 mil candidatos se inscreveram para participar do Enem 2022. As provas
acontecem neste domingo e no próximo (28).
Segundo a coordenadora
regional de educação da área, Neliany Menezes, os jovens saíram da comunidade,
localizada no Parque Nacional do Jaú, na quarta-feira (17) e chegaram ao
município na manhã desse sábado (20). Foram mais de 700 litros de combustível e
muito chão, ou melhor, água pela frente para chegar até lá. Para enfrentar a
jornada, eles levaram redes, camas e até um fogão dentro do barco.
"Quando foi na
terça-feira eles entraram em contato conosco dizendo que tinham conseguido o
barquinho com um morador, porque lá não tem o que nós chamamos de recreio, que
é aquele barco que passa periodicamente no local. O transporte é por conta
deles mesmo. E aí eles conseguiram o barquinho, demos o nosso jeito aqui de
conseguir o combustível, conseguimos até local para eles ficarem aqui na
cidade".
E se a preparação dos
jovens, em tempos normais, já era difícil por conta da distância da comunidade
e dos desafios impostos a quem vive no interior do Amazonas, a pandemia piorou
ainda mais o cenário. Todavia, a professora explica que buscou na tecnologia
uma forma de ajudar os estudantes a realizarem o vestibular.
"Mantínhamos contato
com eles de forma online para eles não se desmotivassem. Uma das coisas que nós
buscamos foi fazer de tudo para que eles pudessem vir fazer a prova. Eles nunca
fizeram um vestibular. Então houve todo um preparo com alguns projetos da secretaria
de educação e esses projetos eram enviados de forma online para que eles se
preparassem. Até os simulados fizemos de forma online com eles", contou a
professora.
A professora também conta
que os estudantes têm o sonho de se formar e ajudar a comunidade. Segundo ela,
a educação é a única porta aberta para os jovens, que precisam se dividir entre
os estudos e a ajuda aos pais no campo.
"Eles sobrevivem de
caça. Eles não podem vender porque é área de reserva e então só podem consumir.
O meio deles de vida é a caça e a pesca. É uma realidade difícil e a única
porta que abre mesmo nesse momento é a educação".
Por conta da distância
entre o município e a comunidade, os estudantes vão precisar ficar na cidade
até o próximo domingo (28) para realizarem a segunda fase do exame. Caso
voltassem para suas casas, não conseguiriam chegar a tempo de concluir a prova.
"Eles não tem como
voltar porque já vai ser no próximo domingo e aí se eles voltarem não vai ter
como vir de volta, porque são três dias de barco. Eles vão precisar ficar aqui.
Aí a gente já entrou em contato com a secretaria, conseguimos apoio, local, já
conseguimos gás, vamos nos organizar aqui e eles vão fazer essa segunda fase da
prova sim".
Nenhum comentário:
Postar um comentário