Na última quinta-feira, 23 de março, a Rede Peteca promoveu mais uma reunião com adolescentes para planejamento de ações de prevenção e enfrentamento a violência contra meninas e mulheres. Infelizmente, após a reunião, recebemos a notícia de mais um caso de feminicídio: a Professora Nagela Eduardo Alves, 37 anos, foi assinada por seu ex-companheiro. Ela morava em Pacajus e lecionava em Horizonte, cidades localizadas na Região Metropolitana de Fortaleza.
Acusado não aceitava a separação
O ex-companheiro da vítima foi preso em flagrante, porém, como tentou suicídio após a chegada da Polícia, precisou ser internado. As informações indicam que o acusado não aceitou a separação, ocorrido há cerca de cinco meses; em dezembro de 2022, chegou a tentar suicídio, mas desistiu após conselhos dos irmãos da vítima.
Acusado era considerado uma pessoa calma
O acusado é servidor da Guarda Municipal de Barreira-CE. De acordo com uma pessoa da família, que pediu para não ser identificada, o acusado era uma pessoa calma e não apresentava sinais de problemas de saúde mental, porém, diante do seu inconformismo com o fim do relacionamento, e da tentativa de suicídio, parentes da vítima passaram a alertá-la sobre os riscos de ele tentar alguma forma de violência contra ela, mas Nagela não acreditava que seu ex-companheiro fosse capaz de lhe fazer algum mal, seja pelos anos de convivência pacífica que tiveram, seja pelo fato de ele ser o pai de seu filho. Os familiares também não acreditavam que o inconformismo do acusado pudesse chegar ao ponto de ele vir a tirar a vida de Nagela.
Vítima recebeu aviso
Após o assassinato, parentes encontraram uma mensagem no celular da vítima, enviada dois dias antes, na qual o acusado pedia para ela procurar uma pessoa para cuidar do filho, pois ele a mataria e cometeria suicídio em seguida. A vítima não acreditou da ameaça de feminicídio, mas ficou preocupada com outras possíveis formas de violência, que o acusado poderia tentar. Chegou a enviar uma mensagem pedindo mensagem para seu irmão pegá-la no trabalho porque estava como medo. O irmão não viu a mensagem e a vítima acabou indo para casa sozinha.
Criança presencia espancamento
Quando a vítima chegou em casa passou a ser espancada pelo acusado na frente filho, de seis anos. Vizinhos confirmaram ter ouvido os gritos da criança pedindo para o pai parar de bater na vítima, que já estava muito ferida. Nagela conseguiu fazer com que a criança fugisse de casa para pedir ajudar. Vizinhos viram a criança ensanguentada.
Momentos de tortura
As marcas de sangue ficaram espalhadas na sala, no quarto, no banheiro, e em outros pontos casa. O corpo da vítima ficou deformado pelos vários cortes que sofreu, inclusive no rosto. Diante dos vários de sinais violência, familiares creditam que antes mesmo de o acusado efetuar os disparos, a vítima já estavam sem vida, pela intensidade dos espancamentos. Há notícias de que a vítima chegou a se trancar no quarto e gritar por ajuda.
Nova tentativa de suicídio
Após torturar e assassinar a vítima, o acusado se trancou na casa. Quando a política chegou, ele tentou suicídio, efetuando um disparo no queixo, mas socorrido e encaminhado para uma unidade de saúde, onde ainda se encontra internada, sem risco de vir a óbito em razão da tentativa de suicídio.
Comoção entre amigos e parentes
Parentes e amigos da vítima estão inconformados com o ocorrido e ainda tentam entender a tragédia. Colegas de trabalho lamentaram a perda da professora, destacaram o importante do trabalho que ela vinha realizando junho aos seus alunos. A Prefeitura de Horizonte divulgou nota de pesar.
Mais um órgão do feminicídio
O filho da professora Nagela presenciou o espancamento que antecedeu ao feminicídio. Pediu para o pai parar e não foi atendido. Gritou por socorro. Os vizinhos escutaram e não denunciaram. As marcas dessa violência vão durar por toda a sua vida. É mais um órfão do feminicídio. É mais uma vítima invisível desse tipo de crime bárbaro.
Os efeitos do feminicídio na vida das crianças e adolescentes filhos das vítimas são devastadores, tanto do ponto de vista material quanto sobre o aspecto psicológico. Do ponto de vista material, muitas crianças e adolescentes órfãos passam a ter dificuldades financeiras maiores, a ponto de lhes faltar até alimentação. Os demais direitos fundamentais, previstos na Constituição e no Eca são igualmente violados.
Do ponto de vista psicológico, os efeitos são ainda mais graves. Muitos órfãos não são acompanhados do ponto de vista socioemocional. Suas feridas emocionais sagram, mas não tratados; muitas vezes sequer são diagnosticadas. Há crianças que param de falar. Há casos em que elas se tornam violentas, revoltadas, inconformadas com a perda da mãe.
Câncer social
Nagela é mais uma vítima de um câncer social, em estado avançado em nosso país, espalhado em todas regiões geográficas e classes sociais. Um média de três mulheres são vítimas de feminicídio no Brasil, todos os dias. Entretanto, o real número dos casos de violência contra as mulheres não é conhecido, pois muitas vítimas não registram a denúncia, por medo de seus agressores.
Apesar de não conhecermos a exata dimensão do problema, a parte que conhecemos já nos assusta, e evidencia que estamos muito longe da resolvê-lo. Somente no primeiro semestre de 2022, 31 mil casos de violência contra as mulheres foram registrados no Brasil. Isso significa que a cada hora, sete mulheres sofrem violência em nosso país.
Nota de pesar
A Rede Peteca se solidariza com os familiares, amigos e alunos da professora Nagela. Seu assassinado é mais um motivo para fortalecermos as ações de prevenção ao feminicídio e demais violências contra meninas e mulheres. Continuarem lutando contra todas as formas de violência.
Professora Nagela Presente!
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